
25 de Julho: Dia de ressignificar a mulher negra em Limeira e no Brasil
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, vai muito além de uma data simbólica. É, nas palavras de Ewelyng Teodoro, presidente do Conselho Municipal dos Interesses do Cidadão Negro(Comicin) de Limeira, um momento de “ressignificar o lugar da mulher negra na sociedade” e, acima de tudo, de reconhecer lutas, trajetórias e legados. Neste ano, a data será marcada pela segunda edição do Prêmio Maria Soldado, iniciativa criada para homenagear mulheres negras da cidade com histórias de resistência, coragem e protagonismo.
Para Ewelyng, a escolha do nome Maria Soldado é carregada de simbolismo. “Ela foi uma mulher negra de Limeira que participou da Revolução Constitucionalista de 1932. Foi como enfermeira e, posteriormente, pegou em armas. Isso representa muito o que é ser uma mulher negra na sociedade: estar sempre na linha de frente, enfrentando batalhas para defender os nossos e aquilo em que acreditamos”, explicou.
A data de 25 de julho, além de celebrar a mulher negra, homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela, símbolo de luta e resistência no Brasil. Ewelyng pontua que o reconhecimento dessa data se faz necessário porque as mulheres negras sempre enfrentaram, e ainda enfrentam, as maiores violências. “A gente não está falando apenas de machismo. Estamos falando de racismo, de desigualdade salarial, de violência obstétrica, de exclusão dos espaços de poder. Por isso existe um dia específico para nós. Porque a nossa história é de luta desde o ventre das nossas mães”, afirmou.
INVISIBILIZADAS
Segundo a presidente do Comicin, o 25 de julho é também um chamado à memória. “Quando a gente fala de homenagear mulheres, especialmente no Dia Internacional da Mulher, raramente somos nós as lembradas. E isso apesar de sermos a maioria da população brasileira”, ressaltou.
Ewelyng também falou sobre o atual cenário das políticas públicas e de como ainda é raro encontrar mulheres negras ocupando posições de liderança com poder real de decisão. “A gente não quer estar só presente nos espaços, a gente quer decidir. Não basta representatividade pela representatividade. Queremos voz real, que influencie políticas públicas e mude vidas”, disse. Ela citou como exemplo positivo a vereadora Bruna Magalhães, primeira mulher negra eleita para a Câmara de Limeira em 2020, após 25 legislaturas sem representação feminina negra.
MARCHA NACIONAL
Outro ponto destacado por Ewelyng é a expectativa pela 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, que acontecerá ainda este ano em Brasília, com o objetivo de reunir um milhão de mulheres de todo o país. Limeira pretende enviar representantes. “Solicitamos um ônibus à Prefeitura para levar mulheres da nossa cidade. Cidades vizinhas como Rio Claro e Piracicaba já conseguiram esse apoio. Aguardamos um retorno positivo”, disse.
O movimento negro, segundo Ewelyng, está focado no lema Reparação e Bem Viver. “Queremos reparação histórica pelas violências que as mulheres negras sofreram e seguem sofrendo. E queremos viver bem. Sem medo de perder filhos e maridos para a violência, sem sermos as últimas a receber e as primeiras a morrer”, reforçou.
CONFERÊNCIA
Neste fim de semana, Ewelyng e outras conselheiras de Limeira participam da Conferência Estadual de Igualdade Racial, em São Paulo, como delegadas eleitas na etapa regional realizada em Piracicaba. Apesar das dificuldades enfrentadas com a ausência de apoio do Estado em transporte e hospedagem, o município de Limeira viabilizou o deslocamento, o que permitirá a participação ativa das representantes locais.
“É essencial que pensemos políticas públicas com recorte de raça e gênero. As mulheres negras estão entre as mais atingidas pelas desigualdades, mas muitas vezes não estão nos debates. Estamos lá para isso, para cobrar mudanças efetivas”, destacou.
Ewelyng encerra com uma mensagem forte para a população limeirense: “Queremos que o 25 de julho seja um dia de celebração das nossas vidas, das nossas histórias e dos nossos legados. Não queremos só lembrar das dores e violências, mas mostrar que somos cultura, arte, inteligência. Quando reverenciamos nossas mulheres negras, mostramos às nossas crianças negras que elas também pertencem a esses espaços. E isso, sim, é um verdadeiro combate ao racismo.”
PRÊMIO
Hoje o Teatro Vitória recebe a 2ª Edição do Prêmio Maria Soldado 32, uma homenagem marcante à força e trajetória da mulher negra. A cerimônia terá início às 19h30 e integra as celebrações do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
Com uma programação que conta com apresentações artísticas e exposições, o evento reforça a importância da memória e da representatividade negra na história e no presente da cidade. O prêmio é uma iniciativa do Conselho dos Interesses do Cidadão Negro de Limeira, que desenvolve o projeto em parceria com diversas organizações da comunidade local.
As laureadas este ano são: Cleusa Santos, Francisca Félix, Kizie Aguiar, Leila Rodrigues e Vera Lúcia. A entrada é gratuita, e toda a população está convidada a prestigiar este momento histórico de valorização da cultura afro-brasileira e de fortalecimento da cidadania.
Legenda: Ewelyng Teodoro, presidente do Comicin
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