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“A memória não é um cofre, é um músculo”

A neuropsicopedagoga e gerontóloga Dra. Érica Sofia Massaro Lang tem observado um aumento nos casos de esquizofrenia entre pacientes de diferentes faixas etárias, inclusive crianças e adolescentes. Em entrevista à Gazeta de Limeira, ela alerta para os efeitos do transtorno no funcionamento do cérebro e reforça a importância da estimulação cognitiva diária como estratégia para melhorar a qualidade de vida de quem convive com a doença.

Confira:

O que é a esquizofrenia e como ela afeta o funcionamento do cérebro?
É um transtorno neuropsiquiátrico que provoca sintomas psicóticos e alterações significativas nas funções cognitivas. A pessoa pode ter dificuldades com atenção, memória, raciocínio e funções executivas. Além disso, há alterações estruturais no cérebro, como a redução de massa cinzenta em regiões como o hipocampo e o córtex pré-frontal, aumento dos ventrículos cerebrais e redução da atividade cerebral na região frontal, que é essencial para a tomada de decisões.

Esses prejuízos cognitivos são tratados apenas com medicação?
Não. A medicação é fundamental, mas não resolve tudo. Os déficits cognitivos costumam ser pouco responsivos aos remédios tradicionais. Por isso, é necessário adotar uma abordagem multidisciplinar, que envolva também suplementação nutricional adequada e, principalmente, atividades que estimulem o cérebro no dia a dia.

Que tipo de suplementação pode ajudar?
Existem compostos bioativos que ajudam a proteger e estimular o cérebro. Entre eles, a Fosfatidilcolina e a Fosfatidilserina, que melhoram a comunicação entre os neurônios; o Magnésio Treonato, que atravessa a barreira hematoencefálica e ajuda na memória; e a Acetil-L-Carnitina, que favorece o metabolismo neuronal. A vitamina B12 também é fundamental. Essas substâncias ajudam a manter a integridade das conexões cerebrais e podem atuar como apoio ao tratamento.

E as atividades diárias? Que tipo de estímulo faz diferença?
Leitura, escrita, jogos de lógica, pintura, música, dança, aprender algo novo... tudo isso estimula o cérebro. A prática de exercícios físicos também é muito importante, pois contribui para a produção de substâncias que ajudam a regenerar o cérebro. Essas atividades devem ser constantes, principalmente nos períodos em que a doença está controlada. O cérebro precisa de desafio e uso contínuo.

Isso ajuda a evitar a atrofia cerebral comum nesses pacientes?
Sim. Quando o cérebro é pouco estimulado, ele perde conexões e estrutura. É a chamada atrofia cerebral. Mas, ao estimular a neuroplasticidade — ou seja, a capacidade do cérebro de se reorganizar — conseguimos preservar funções importantes. Atividades cognitivas frequentes, associadas ao tratamento adequado, ajudam a manter a autonomia e a qualidade de vida por mais tempo.

A senhora costuma dizer que “a memória não é um cofre, é um músculo”. O que essa frase significa?
Significa que a memória não serve apenas para armazenar informações. Ela precisa ser exercitada. Se não usamos, enfraquece. Mas, se usamos diariamente, com leitura, conversa, escrita, ela se fortalece. Essa lógica vale para todas as funções cognitivas e, principalmente, para quem vive com transtornos como a esquizofrenia.

Qual a mensagem final para as famílias que convivem com essa realidade?
Que o cuidado com o cérebro vai além da medicação. O afeto, os hábitos saudáveis e a estimulação diária são tão importantes quanto o tratamento clínico. Com atenção integral e estratégias simples no dia a dia, é possível melhorar muito a vida das pessoas com esquizofrenia.

 

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