
Veraiz Souza transforma vivências em poesia e resistência literária
Elis Monfardini/
Sonayô
A literatura sempre foi mais que um dom ou escolha para Veraiz Souza — foi o caminho natural desde a infância. Escritora, poeta, professora, bibliotecária e ativista, Veraiz carrega nas palavras o resultado de uma trajetória que começou ainda menina, aos oito anos, quando participava de concursos de redação na década de 1960. “Sempre ganhava um certificado ou diploma de honra ao mérito”, lembra com orgulho.
Ao longo dos anos, a paixão pela leitura e pela escrita se intensificou. Após se formar professora pelo Magistério, Veraiz ingressou na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), onde se graduou em Biblioteconomia, em 1976. Logo depois, passou a atuar na Biblioteca Municipal de Limeira, onde descobriu não apenas mais livros, mas também um universo de ideias, culturas e inspirações que impulsionaram sua produção literária. “Lá tive oportunidade de adquirir conhecimentos que me influenciaram a ser uma poeta e escritora”, conta. O ambiente também favoreceu o nascimento de textos teatrais, entre eles “A Paixão de Cristo”, premiado pela Secretaria de Cultura de Limeira em 1981.
Com 18 livros publicados — entre obras individuais, antologias e edições independentes — Veraiz construiu um percurso sólido na literatura, sempre com um olhar sensível para temas como o amor, a superação e, nos últimos anos, as questões raciais e sociais. O início da carreira foi marcado por uma escrita mais tímida, voltada para o romantismo. “Saíam poemas bonitinhos, mas meio sem graça, eu achava”, recorda. O tempo, os estudos e as vivências, no entanto, ampliaram seu repertório e aprofundaram os temas abordados.
Hoje, sua escrita se firma também como instrumento de denúncia, reflexão e valorização da identidade negra. Veraiz é autora das antologias Sobrevivência Poética — volumes que reúnem autores afrodescendentes para falar de dor, resistência e superação. “A primeira antologia falou sobre o quanto sofremos com o preconceito e racismo no passado. A segunda abordou a superação. Esses livros fizeram com que os poetas dessas obras galgassem patamares mais elevados em suas carreiras e vidas”, explica. Para 2025, já está prevista a terceira edição do projeto.
Entre suas principais influências literárias estão nomes como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Castro Alves, José de Alencar, João Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Graciliano Ramos — autores que moldaram sua forma de ver e escrever o mundo.
Apesar da dedicação intensa, Veraiz ressalta que vive os desafios de muitos autores independentes. “Recompensa financeira, nenhuma. Faço tudo com meus próprios esforços. Fico triste com isso, pois nossos livros poderiam estar em muito mais mãos”, lamenta. Mesmo assim, ela se mantém firme em seu propósito: “Não quero ficar rica com meus livros. Quero centenas de meus livros nas mãos das pessoas.”
A autora conta que seu processo criativo é movido pela inspiração que pode surgir a qualquer momento — por isso, anda sempre com papel, caneta ou celular à mão. Suas ideias vêm de vivências, sonhos, histórias que escuta e considera importantes para registrar. “Sempre faço uma oração antes de tudo e depois agradeço a Deus a inspiração”, revela.
A revisão dos textos e o retorno dos leitores também são partes fundamentais de seu trabalho. Veraiz trabalha com editoras confiáveis, como a PlenaVoz, e valoriza o feedback que recebe. “Terminar e receber um livro é como se ter um filho. É quase a mesma emoção. Fico feliz porque nunca me disseram que meu livro estava ruim, pelo contrário, sempre recebo elogios.”
Entre os livros mais marcantes, destaca Poemas e Almas que se Encontram ao Entardecer, que inclui o conto “Meias de Seda”, um dos mais comentados por seus leitores. A repercussão do texto foi tão grande que ela já planeja um novo livro com contos voltados para essa temática.
Além das antologias e do novo livro de contos, Veraiz também sonha em publicar uma obra infantil, que já tem o texto pronto, faltando apenas a ilustração. “Se eu encontrar um patrocinador, consigo realizar os três projetos que estão prontos para sair do papel”, afirma.
Com participação em mais de 15 antologias e livros lançados por editoras como Scortecci, Milograph, Primeira Leitura e PlenaVoz, Veraiz segue inspirando com suas palavras e incentivando novos escritores. Seu conselho para quem está começando é simples e direto: “Nunca deixe seus escritos na gaveta. Mostre-os a um poeta ou escritor.”
Veraiz Souza segue escrevendo — e vivendo — com a
intensidade de quem entende que literatura não é só arte, é também ato
político, resgate de memórias e ferramenta de transformação. Para ela, a
escrita é, acima de tudo, uma forma de amar e resistir. (Com apoio do Comicin -
Conselho Municipal dos Interesses do Cidadão Negro)
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