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Região se une para conter avanço de praga que ameaça citricultura

Com a citricultura ameaçada por uma doença grave enfrentada no setor, municípios da região como Limeira, Cordeirópolis e Iracemápolis promovem uma campanha coordenada para erradicar a murta (Murraya paniculata), planta ornamental amplamente usada na arborização urbana, mas que representa um grande risco fitossanitário. A murta serve de hospedeira para o psilídeo, inseto transmissor do greening, bactéria que não tem cura e compromete severamente os pomares de laranja e outras frutas cítricas.

 

O greening é uma doença que ataca o sistema vascular das plantas e provoca deformações nos frutos, queda de produtividade e em muitos casos, a morte precoce das árvores. A praga se espalhou rapidamente nos últimos anos, especialmente em áreas com presença significativa de murtas, criando um ambiente propício para a multiplicação do inseto vetor. Diante dessa realidade, municípios da região decidiram agir de forma preventiva, iniciando ações de erradicação da planta e substituição por espécies não hospedeiras.

 

Cordeirópolis foi a primeira cidade a adotar medidas concretas. Uma lei municipal já proíbe o plantio de murtas e determina a retirada gradual das existentes. Durante a 14ª edição do evento Citros de Mesa, realizado em agosto de 2024 no Centro de Citricultura Sylvio Moreira, o diretor do Departamento de Defesa Sanitária e Inspeção Vegetal da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, engenheiro agrônomo Alexandre Paloschi, apresentou as diretrizes das ações de controle, que começaram a ser executadas ainda no início deste ano.

 

“Como se diz, o exemplo vem de casa e a Secretaria de agricultura irá dar o exemplo no combate ao Greening a partir da eliminação de todas as plantas hospedeiras de suas áreas particulares. O Estado irá apoiar a erradicação das murtas em áreas públicas e privadas, substituindo as plantas por espécies nativas com o apoio do setor produtivo, reforçando o esforço conjunto para manter a sanidade da citricultura paulista”, comenta Alexandre.

 

Limeira, que já foi destaque nacional na produção de citros, também se mobilizou. Apesar da redução na atividade agrícola nos últimos anos, a cidade a abriga importantes pack houses e indústrias de suco que respondem por uma fatia relevante da produção estadual. Para proteger essa cadeia produtiva, foi lançada a campanha “Pomar Seguro: protegendo as raízes de Limeira”, alinhada à Resolução SAA nº 24/2025, publicada pelo governo estadual. A iniciativa envolve ações de conscientização e remoção das murtas, com substituição por espécies ornamentais mais seguras do ponto de vista fitossanitário.

 

Iracemápolis, cuja economia também tem forte base na citricultura, foi a mais recente a aderir ao movimento. Nesta semana, a prefeitura anunciou uma campanha municipal para combater o greening com foco na eliminação das murtas da arborização urbana. A ação está sendo coordenada pela Diretoria de Meio Ambiente e Agricultura e prevê, além da substituição das plantas, uma série de ações educativas voltadas à população, alertando sobre os riscos da permanência da espécie nas áreas urbanas e periurbanas.

 

Segundo o Centro de Citricultura Sylvio Moreira/IAC, instituição de pesquisa referência mundial no setor, essas medidas são essenciais para controlar o avanço da doença. A murta, embora valorizada por suas flores e aroma, cria um ambiente ideal para o desenvolvimento do psilídeo. Com a sua erradicação em áreas residenciais e públicas, espera-se uma redução significativa das populações do inseto, diminuindo a pressão sobre os pomares comerciais.

 

O Centro, localizado em Cordeirópolis, atua de forma ativa no combate ao greening, oferece suporte técnico às prefeituras, desenvolve pesquisas sobre controle biológico e genético, e transfere conhecimento para produtores e viveiristas. A instituição também mantém um dos maiores bancos de germoplasma de citros do mundo, fundamental para a preservação e desenvolvimento de variedades mais resistentes.

 

Além de proteger os pomares, a substituição da murta traz benefícios para o paisagismo e a saúde urbana. A escolha de espécies não hospedeiras pode diversificar a arborização, melhorar a qualidade ambiental das cidades e reduzir custos futuros com controle de pragas. Dessa forma, a ação representa um ganho duplo: protege a economia agrícola e melhora a paisagem urbana.

Com Limeira, Cordeirópolis e Iracemápolis na vanguarda dessa estratégia, a expectativa é que outras cidades da região adotem medidas semelhantes nos próximos anos. A colaboração entre poder público, centros de pesquisa e sociedade civil tem se mostrado o caminho mais eficaz para enfrentar o greening e garantir a sustentabilidade da citricultura paulista.

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