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"Normalizar o diálogo sobre saúde mental é fundamental"

A saúde mental tem ganhado atenção crescente nos últimos anos, especialmente diante dos impactos da pandemia de Covid-19, que trouxe à tona desafios emocionais enfrentados pela população em diferentes contextos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), transtornos como ansiedade e depressão afetam milhões de pessoas em todo o mundo, e no Brasil, o cenário não é diferente: cerca de 19 milhões de brasileiros convivem com essas condições. Apesar do avanço na conscientização, a saúde mental ainda enfrenta tabus e desafios que dificultam o acesso a cuidados adequados.

 

Neste contexto, campanhas como o Janeiro Branco surgem como iniciativas importantes para promover a reflexão sobre o bem-estar emocional e psicológico, quebrar preconceitos e incentivar o autocuidado. Para discutir esses temas, a psicóloga Franciele Zen (CRP 06/108651), em entrevista à Gazeta de Limeira, aborda questões fundamentais sobre a importância de normalizar o diálogo sobre saúde mental, identificar sinais de alerta, promover a educação emocional e fortalecer o papel de instituições como escolas, empresas e famílias na construção de uma cultura que priorize o equilíbrio emocional e a qualidade de vida.

 

Confira:

 

O que é o Janeiro Branco e qual a importância dessa campanha para a sociedade?

Janeiro Branco é uma campanha criada para conscientizar a população sobre a importância da saúde mental, que ocorre anualmente no mês de janeiro. O objetivo é sensibilizar a sociedade para a importância de cuidar da mente, assim como se cuida do corpo. A campanha busca quebrar tabus relacionados à saúde mental, incentivar as pessoas a buscarem ajuda profissional quando necessário e promover a reflexão sobre a qualidade de vida emocional e psicológica.

 

Na sua visão, quais são os maiores tabus que ainda cercam a saúde mental na sociedade?

A saúde mental é um tema que ainda enfrenta muitos tabus. Apesar de avanços na conscientização, algumas barreiras culturais, sociais e estruturais continuam a dificultar uma abordagem mais aberta. Existem muitos tabus relacionados a saúde mental como por exemplo: Não falar sobre suicídio, associação a loucura, relutância ao buscar ajuda psicológica acreditando resolver o “problema” sozinho, medo de ser diagnosticado com algum transtorno, influência de crenças religiosas e culturais interpretando os transtornos mentais como falta de fé ou algo espiritual e até mesmo desigualdade no acesso ao tratamento onde a saúde mental muitas vezes é vista como um luxo ou algo secundário.

 

Por que é tão importante normalizar o diálogo sobre saúde mental no dia a dia das pessoas?

Normalizar o diálogo sobre saúde mental é fundamental porque contribui na redução do estigma e do preconceito permitindo que as pessoas se sintam mais à vontade para buscar ajuda quando necessário. Isso ajuda a aumentar a conscientização e esclarecer que saúde mental é comum e muito importante assim como a saúde física. E ainda facilita na prevenção precoce evitando agravamento e distúrbios mentais.

 

Como a falta de educação emocional pode impactar o desenvolvimento das pessoas desde a infância?

Pode ser impactada de diversas maneiras, afetando habilidades sociais, cognitivas e a saúde mental. Crianças que não aprendem a identificar, expressar e lidar com suas emoções de maneira saudável, podem ter dificuldades em formar relações saudáveis, demonstrar empatia e lidar com frustações gerando problemas de impulsividade, depressão e ansiedade. Portanto a educação emocional é muito importante ser desenvolvida na infância, para desenvolvimento do autocontrole, resiliência e inteligência emocional.

 

Quais são os sinais de que uma pessoa pode estar precisando de apoio psicológico?

Existem vários sinais para essa identificação: mudanças no comportamento (isolamento social, apatia, atitudes impulsivas), dificuldade de lidar com os problemas do dia a dia, sentimentos persistentes de tristeza e ansiedade por longos períodos, comportamentos autodestrutivos (álcool, drogas, pensamentos suicidas e automutilação), dificuldade de manter relações, sentimento de culpa, mudanças no sono e no apetite.

 

 

O ambiente de trabalho costuma ser uma das fontes de estresse e adoecimento mental. Que ações práticas as empresas podem adotar para cuidar da saúde mental de seus colaboradores?

As empresas desempenham um papel muito importante no cuidado da saúde mental de seus colaboradores podendo incluir praticas que promovam um ambiente3 de trabalho mais saudável oferecendo apoio psicológico como acesso a psicólogos e terapeutas, promover um ambiente de trabalho mais acolhedor com respeito e valorização e reconhecimento, redução em cargas de trabalho excessiva e uma liderança consciente e empática. Com uma saúde mental em dia os colaboradores geram muito mais benefício para a empresa produtividade e satisfação no trabalho.

 

 

O que impede muitas pessoas de buscar ajuda psicológica? Como podemos combater esse tipo de resistência?

Alguns empecilhos para busca de ajuda psicológico pode ser vários como por exemplo: rotulações como “fraca”, “louca”, “problemática” por precisar de ajuda psicológica, falta de informação, de entendimento de como funciona a terapia, barreiras financeiras acreditando que a terapia é um tratamento apenas para pessoas ricas, medo ou vergonha, crenças religiosas etc, assim com a educação e a conscientização podemos desmistificar a psicoterapia esclarecendo o que acontece em uma sessão, tirando duvidas, criando campanhas públicas que falem mais sobre saúde mental assim como é falado sobre a saúde física por exemplo.

 

A pandemia evidenciou muitos desafios relacionados à saúde mental. O que mudou desde então na forma como esse tema é tratado?

A pandemia da Covid-19 trouxe algumas mudanças e percepções relacionados a saúde mental. Houve um aumento sobre a conscientização sobre a saúde mental destacando a importância de cuidar do emocional, equiparando saúde mental a saúde física. Vale destacar a ampliação do acesso ao serviço de psicologia, permitindo atendimentos on-line com aplicativos e plataformas. Impactou as relações nos trabalhos e nas escolas aumentando problemas como ansiedade social e e dificuldades de aprendizagem. Houve uma maior atenção governamental e planos emergenciais investidos em saúde mental, estimulo ao auto cuidado e um aumento de pesquisas e estudos sobre saúde mental. Apesar de varias mudanças ainda é necessário uma maior conscientização e muitos desafios para serem enfrentados.

 

Você acredita que há um aumento da conscientização sobre saúde mental nos últimos anos? O que ainda precisa ser feito?

Acredito que houve um aumento significativo na conscientização sobre saúde mental, principalmente após a Covid-19 mas ainda há muito a ser feito para garantir o aumento dessa conscientização. Para que isso continue evoluindo é necessário o aumento de acesso aos serviços, a terapia e a medição inda estão inacessíveis para muitas pessoas, qualificar e diversificar os atendimentos, certos grupos, como comunidades LGBTQIA+, povos indígenas e pessoas com deficiência, muitas vezes enfrentam barreiras adicionais. Algo importante também seria normalizar o autocuidado para que as intervenções não sejam feitas apenas em estágios muito avançado de sofrimento. A conscientização sobre saúde mental está crescendo sim, mas ainda é necessário um esforço coletivo para garantir que essa evolução se traduza em acesso, inclusão e prevenção.

 

Que papel a escola e a família podem desempenhar na construção de uma cultura de saúde mental?

As escolas são locais essenciais para promover a saúde mental desde cedo, pois influenciam diretamente o desenvolvimento emocional e social das crianças e jovens com oficinas, palestras. Já a família é a base emocional para os indivíduos, especialmente durante a infância e adolescência. Seu apoio é crucial para construir uma cultura de saúde mental com exemplos pessoais, dialogo entre pais e filhos, hábitos positivos, gestão de conflitos. Agora juntos a escola e a família têm um impacto duradouro na forma como crianças e jovens enxergam e lidam com a saúde mental. Ao trabalharem juntas, essas instituições podem criar uma cultura de acolhimento, prevenção e empoderamento emocional, ajudando a formar indivíduos mais resilientes, conscientes e saudáveis.

 

Janeiro Branco busca sensibilizar as pessoas para olharem para si mesmas. Como o autocuidado pode ajudar no equilíbrio emocional?

O autocuidado é muito importante no equilíbrio emocional, ajuda na redução do estresse, melhora a autoestima e autoconfiança, previne problemas emocionais, melhora as relações interpessoais. Vou citar alguma praticas de autocuidado que qajudam muito:

Exercícios Regulares: Caminhadas, yoga ou qualquer atividade que movimente o corpo.

Momentos de Conexão: Passar tempo com amigos, família ou até mesmo com animais de estimação.

Pausa Digital: Reduzir o tempo em redes sociais para evitar sobrecarga de informações.

Rotina de Sono Saudável: Garantir um sono regular e restaurador.

Definir Prioridades: Aprender a dizer "não" a demandas excessivas e focar no que é essencial.

Incorporar práticas de autocuidado na rotina é um investimento em saúde e bem-estar a longo prazo.

 

Para alguém que nunca fez terapia, como seria o primeiro passo para buscar apoio psicológico?

Buscar atendimento psicológico é um passo importante para cuidar da saúde mental, e o processo pode parecer desafiador no início. Mas o primeiro passo é reconhecer que você precisa de ajuda e que muitas vezes cuidar de si sozinho pode ser um pouco mais difícil. Entre em contato com um profissional, agende um horário sem compromisso e confie no processo.

 

 

 

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