
Doença que afeta Milton Nascimento traz alerta sobre tipos de demência
O recente diagnóstico do cantor Milton Nascimento, de 82 anos, com Demência por Corpos de Lewy (DCL), reacendeu o debate sobre as doenças neurodegenerativas que comprometem a memória, o raciocínio e o comportamento. O médico e vereador Marcelo Rossi, em entrevista à Gazeta de Limeira, destacou a importância de conhecer os sinais da doença, que é a segunda causa mais comum de demência degenerativa progressiva, ficando atrás apenas do Alzheimer.
Segundo Rossi, a DCL é causada pelo acúmulo anormal de uma proteína chamada alfa-sinucleína no cérebro, que forma os chamados corpos de Lewy. Esse acúmulo afeta áreas responsáveis pela cognição, pelos movimentos e pela percepção. Embora muitas vezes confundida com o Alzheimer, a doença apresenta sintomas específicos e requer cuidados distintos.
“Embora
compartilhem sintomas de perda de memória e dificuldades cognitivas, há sinais
que tornam a Demência de Corpos de Lewy diferente do Alzheimer”, explicou o
médico. Ele destacou que as flutuações cognitivas, por exemplo, são marcantes.
“O paciente pode ter momentos de lucidez e atenção quase normais e, em seguida,
períodos de grande confusão. Isso não é comum no Alzheimer, que tende a ser
mais progressivo e linear”, detalhou.
Outro aspecto característico são as alucinações visuais precoces e vívidas. “Muitos pacientes relatam ver pessoas, animais ou objetos que não existem, e esses episódios costumam aparecer logo nos estágios iniciais”, afirmou Rossi.
A DCL também pode apresentar sintomas motores semelhantes aos do Parkinson, como rigidez muscular, lentidão dos movimentos e tremores. Em alguns casos, o paciente chega a ser inicialmente diagnosticado com Parkinson, o que torna o diagnóstico ainda mais desafiador.
Entre outros sintomas estão o distúrbio comportamental do sono, quando o paciente fala, grita, se debate ou até cai da cama; e a sonolência diurna excessiva, com longos períodos de sono durante o dia. Rossi alerta que os sonhos podem ser tão reais que o paciente chega a confundi-los com a realidade.
Outro ponto de atenção é a sensibilidade a medicamentos. “Pacientes com Demência por Corpos de Lewy podem ter reações graves a antipsicóticos comuns, o que exige muito cuidado no tratamento. Cada medicação deve ser cuidadosamente avaliada”, ressaltou.
O diagnóstico, segundo o médico, é clínico, apoiado por exames complementares. A investigação começa com uma história clínica detalhada, observando-se as flutuações cognitivas, alucinações e sintomas motores. Em seguida, o paciente passa por avaliações neurológicas e neuropsicológicas, que ajudam a medir a memória, a atenção e as funções executivas.
A ressonância magnética, em muitos casos, mostra menos atrofia do hipocampo que no Alzheimer, enquanto o PET-SCAN com dopamina (DaTscan) auxilia na diferenciação entre as doenças, revelando redução na captação dopaminérgica. Exames laboratoriais também são realizados para descartar causas reversíveis de demência, e biomarcadores em estudo — como a análise da alfa-sinucleína no líquor — têm ajudado na confirmação dos casos.
Rossi destacou ainda que “nem toda demência é Alzheimer”. “Existem mais de 100 tipos de demência, e a Demência por Corpos de Lewy é uma delas. Ela causa oscilações de memória e atenção, alucinações precoces e sintomas motores semelhantes ao Parkinson. O tratamento deve ser individualizado e mais cauteloso”, enfatizou.
De acordo com o médico, tanto a DCL quanto o Parkinson são causados pelo acúmulo da mesma proteína, a alfa-sinucleína, que se deposita lentamente no cérebro ao longo dos anos, antes mesmo de os sintomas aparecerem. “No caso do Parkinson, a proteína se acumula no tronco encefálico; já na DCL, ela se manifesta nas áreas superiores, comprometendo a visão e levando às alucinações”, explicou.
Em
comparação com o Alzheimer, a Demência por Corpos de Lewy tende a ser mais
agressiva. “Ela compromete múltiplas áreas do cérebro e provoca sintomas
variados, o que torna o manejo mais complexo e a progressão mais rápida”,
pontuou Rossi.
Ele reforça que a informação é decisiva tanto para o paciente quanto para a família. “A doença assusta, é verdade, mas quando identificada precocemente, é possível oferecer melhor qualidade de vida, adaptar o tratamento e preparar a família para lidar com as mudanças”, destacou.
O
médico encerrou a entrevista com uma reflexão: “O diagnóstico precoce e o
acompanhamento adequado fazem toda a diferença. Voltaremos a falar mais sobre
esse tema, pois compreender o que está por trás dessas doenças é o primeiro
passo para enfrentá-las com dignidade e conhecimento.”
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