Um chamado pela vida
Queridas mulheres e homens de bem,
Eu gostaria de iniciar o ano trazendo a vocês reflexões de incentivo, algo que fizesse sentido com a chegada do ano novo ou um pensamento motivacional. Entretanto, aprendi que os males do passado, muitas vezes norteiam para onde devemos seguir. Hoje não falo somente por mim, falo em nome de todas as mulheres que perderam a vida depois de acreditar de corpo e alma nos homens a quem amavam, estes mesmos que juraram protegê-las e tiraram suas vidas, de forma sangrenta e sem pudor.
As estatísticas pontuam que não há cor, raça, religião, nem mesmo classe social como determinantes para que o feminicídio aconteça e na maioria das vezes, a vítima se encontra numa tentativa de separação, depois de tentar inúmeras vezes e lutar pela mudança de seus parceiros. Recentemente aconteceu com a jovem Ingrid, mas no futuro pode acontecer com alguém da sua casa, da sua família, com uma amiga, com sua filha, neta, sobrinha!
O Brasil é quinto país onde o feminicídio mata mais mulheres. Os números são alarmantes entre Maria, Gabrielle, Giovana, Tatiana, Rochelle, Daiana, Ana Cristina, Solange, Ingrid... O que tinham em comum para serem mortas pelos próprios namorados, maridos, companheiros? Muitas vezes presenciaram a violência dentro de suas casas, vendo seus pais, irmãos, primos agirem violentamente contra membros de suas famílias. E antes que pudessem se dar conta, estavam envoltas de relações abusivas também, sem ter forças para sair.
A maioria das mulheres que vivem numa relação amorosa não quer se separar. Querem que as coisas deem certo, querem andar com a tranquilidade de vestir o que gostam, de ter os cabelos soltos ao vento, querem falar sem ser reprimidas, expor os próprios pensamentos e saber que são ouvidos e acolhidos. Assim como todo ser humano querem ter o direito de ser quem são, ter o direito de amar e ser respeitadas, zeladas, protegidas. Diante de relações abusivas, muitas sofrem violência domésticas, são abusadas sexualmente, molestadas, ameaçadas. Pedem mudança aos seus companheiros em nome do amor, mas sem sucesso... Aguentam caladas, escondem da família, dos amigos as agressões e por achar que não tem como sobreviver ou criar os filhos, tornam-se submissas a jogos de poder que minam a própria estima e confiança.
O comum que há em muitas mulheres é que se cansam de tentar, são e eram mulheres que depois de perceber que a relação não era mais profícua, não estava lhes fazendo bem, decidiram romper e começar uma vida nova e com esperança... mesmo amando, preferiram a dor da separação, preferiram desfazer o nó da desilusão amorosa. O medo tolhe toda a percepção, mas quando se cansam e tentam fugir dessa relação, são mortas violentamente. É tarde demais.
Todos os dias o noticiário mostra em algum lugar a morte de uma mulher, por quem mata até em nome de Deus. Deus não disse que nenhum homem deveria agredir, humilhar, bater nas mulheres. A bíblia pede aos homens que as protejam. Nunca foi dito que deveriam tirar as suas vidas!
Em Limeira, temos visto essa situação se repetir com frequência. Embora todos os esforços tenham sido feitos, mulheres continuam morrendo. Outras lutam para que não mais se repitam, as nossas vozes têm sido ignoradas, ridicularizadas por muitos homens que nas rodas de amigos, satirizam que a culpa é das feministas. Ora, uma mulher só se torna feminista, quando o machismo impera, como uma voz a falar pelas mulheres e lembrar aos homens que um completa o outro, o masculino que habita nos homens é forte, protege. O machismo com suas atitudes grotescas, sem limite e sem pudor: mata!
Essa forma de agir não é a mesma feita por todos os homens. Eu acredito que em Limeira exista homens de bem, honestos, trabalhadores, pais de família que dedicaram suas vidas a prover o necessário para seus filhos, suas filhas, e ainda hoje zelam por suas mulheres. E venho em apelo pedir que nos ajudem a dizer não a tantos que atuam com violência, nos ajudem a pedir que parem de matar as mulheres.
Eu, a Marina, Tatiana, Rosângela, Graziela, Zilka, Juliana, Helvira, Paula, Ana e tantas outras mulheres, estaremos com nossos maridos, filhos, amigos, irmãos e fazemos um chamado à toda a comunidade limeirense para somar forças e proteger esposas, filhas, noras, sobrinhas, netas. Dia 11 de janeiro estaremos na Praça Toledo de Barros, às 9, numa grande mobilização contra o feminicídio, contra a violência doméstica, num grito e chamado pela paz. Estaremos lá para conscientizar a população, pedir por políticas públicas mais efetivas e lembrar que o machismo mata!
Venha de branco, traga seu cartaz, vamos dizer basta a essa situação que tem ceifado vidas inocentes de tantas que só souberam amar.
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