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Mais de 570 mil brasileiros foram afastados por transtornos mentais

Segundo a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, o Brasil registrou 576 mil concessões de afastamentos por transtornos mentais e comportamentais em 2020, 26% a mais do que o registrado em 2019, a maior alta já registrada. Os números do ano passado ainda não foram compilados, mas a tendência é de aumento dos casos e dos afastamentos.

Segundo pesquisa do instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial e divulgada pela BBC News Brasil, 53% dos brasileiros declararam que seu bem-estar mental piorou um pouco ou muito na pandemia. Essa porcentagem só é maior em quatro países: Itália (54%), Hungria (56%), Chile (56%) e Turquia (61%).

Em 2018 a OMS (Organização Mundial da Saúde) já alertava sobre o aumento dos casos de transtornos de ansiedade e depressão, e dizia que estas seriam as maiores causas de afastamento do trabalho em todo o mundo até 2020. Foi exatamente naquele ano que se iniciou a pandemia da Covid-19 e os impactos na saúde mental foram além das estimativas.

É fato que o aumento dos transtornos mentais e comportamentais podem ter forte relação com a pandemia, e o risco de se contaminar foi considerado fator estressor para a saúde mental.

Segundo a pesquisa, outros fatores impactam na saúde mental do trabalhador brasileiro, como as mudanças abruptas na rotina, a adaptação ao home office, a volta ao presencial, o trabalho híbrido e as incertezas em relação ao futuro pós-covid.

Ricardo Pacheco, médico CEO da Oncare Saúde e presidente da ABRESST (Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança no Trabalho), diz que nem sempre é possível perceber os sintomas de depressão e ansiedade. "Muitas pessoas continuam nas suas atividades laborais sem sinais aparentes de que algo não vai bem, por isso é preciso prestar atenção a mudanças significativas na qualidade de vida do indivíduo. Sensações prolongadas de tristeza ou de inutilidade e abuso de substâncias como álcool e drogas são pontos de alerta", alerta.

Já Cristina Rodrigues, psicóloga organizacional da Oncare Saúde enfatiza que sem saúde mental, não existe saúde. "Por isso, é fundamental que as empresas reforcem os critérios para avaliação, e estamos vendo esse comprometimento. Uma pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA) apontou que desde o início da pandemia 75% das empresas brasileiras desenvolveram iniciativas para cuidar da saúde mental dos colaboradores. No entanto, grande parte delas ainda não está preparada para lidar de maneira satisfatória com esses problemas”, avalia. “Aquelas que estão mais preparadas o fazem por meio da assistência – o que também é importante, mas não é suficiente, já que esse respaldo não influencia nas causas das doenças. É óbvio que ações de assistência, corretivas, são necessárias. Mas o ideal é trabalhar com diagnósticos preventivos contínuos dos trabalhadores. Atuar na saúde mental envolve um nível de investigação muito maior", completa.

Bem-estar no trabalho e Saúde mental

O médico ressalta que o bem-estar também está muito relacionado com saúde mental. “O colaborador que não está com sua saúde mental comprometida é capaz de realizar suas atividades com envolvimento e eficiência e, assim, potencializar os resultados da empresa”.

Para ele, um maior enfoque na saúde emocional vai beneficiar dos acionistas aos trabalhadores. “É hora de colocar em prática as ações que contribuem para o bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores. Isso incluem: promover soluções de cuidados virtuais; fazer uso de campanhas e comunicação para mudar a visão sobre problemas emocionais; medir o estresse da força de trabalho e suas principais causas; oferecer suporte emocional sobre luto; patrocinar grupos de empregados com foco em saúde mental, entre outras”, finaliza.

 

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