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Lúpus: 87% dos portadores têm pelo menos um órgão afetado

Hoje é Dia Internacional de Atenção à Pessoa com Lúpus e uma pesquisa da Federação Mundial do Lúpus (FML) constatou que 87% dos portadores têm pelo menos um órgão importante afetado pela doença. Quase três quartos dos entrevistados relataram vários órgãos acometidos. A pele (60%) e os ossos (45%) foram os órgãos mais mencionados como afetados pelo lúpus, além de outros órgãos e sistemas que também sofrem grande impacto, como rins (36%), sistema gastrointestinal / digestivo (34%), olhos (31%) e sistema nervoso central (26%).

Segundo o Ministério da Saúde, entre as mais de 80 doenças autoimunes, o lúpus é uma das mais graves. A Sociedade Brasileira de Reumatologia estima que cerca de 65 mil pessoas vivem com a doença no país, sendo a grande maioria mulheres, entre 20 e 45 anos.

Tássia Di Carvalho descobriu que tinha lúpus em 2012. Após um episódio de estresse, ela acordou com o rosto totalmente inchado. “Não consegui nem andar. Fui me arrastando até chegar ao banheiro para ver o meu rosto. Meus olhos estavam inchados”, disse à Agência Brasil.

Ela foi levada ao pronto-socorro, onde os médicos julgaram se tratar de alergia a alimento. Receitaram corticoides e ela desinchou. Dois dias depois, voltou a inchar e precisou de mais corticoides. “Ficaram nessa brincadeira cerca de dois meses. Aí, me mandaram para a Santa Casa, porque ficaram com medo da quantidade de corticoides que eu estava tomando”.

Somente após exames, Tássia descobriu que tinha lúpus. Chegou a perder todo o cabelo, sofreu episódios sem conseguir andar, fez quimioterapia por cinco anos. Teve com perda de visão e lesões cutâneas. Hoje, seu tratamento é a base de hidroxicloroquina.

"Muitas vezes, pessoas que convivem com o lúpus são informadas de que 'não parecem doentes', quando, na realidade, estão enfrentando uma doença que pode estar atacando qualquer órgão em seu corpo e causando inúmeros sintomas e outras complicações graves de saúde", disse Stevan W. Gibson, presidente e CEO da Lupus Foundation of America, que atua como o secretariado da Federação Mundial de Lúpus.

DOENÇA

O lúpus é uma doença autoimune crônica que pode causar inflamação e dor em qualquer parte do corpo em que o sistema imunológico, que costuma combater infecções, ataca tecidos saudáveis. Quando acomete apenas a pele é chamado de lúpus cutâneo; quando, além da pele, atinge outros órgãos e sistemas, é chamado de lúpus eritematoso sistêmico (LES).

Para o presidente da Comissão Científica de Lúpus da SBR, Edgard Reis, não existe um fator único para o aparecimento dessa doença. Trata-se de uma junção de fatores genéticos, ambientais (radiação ultravioleta) e hormonais (estrógeno) que atuam sobre o sistema autoimune. “Ou seja, o próprio indivíduo começa a produzir anticorpos, células, moléculas que vão atacar o próprio organismo. Em vez de atacar vírus e bactérias, acabam por atacar o próprio organismo também”, afirmou.

O lúpus passou a ganhar mais visibilidade na mídia por conta de celebridades como Lady Gaga e Selena Gomez, que vivem com o diagnóstico. Recentemente, no entanto, atraiu a atenção com a publicação de um estudo na Revista Nature, em que pesquisadores analisaram uma paciente com a doença e identificaram mutações de DNA em um gene chamado TLR7, que atua na leitura do RNA dos vírus e, consequentemente, no seu combate pelo sistema imunológico.

SINTOMAS

A doença se manifesta de duas formas: de maneira cutânea, com o aparecimento de manchas na pele em áreas que ficam expostas à luz solar; e de forma sistêmica, na qual um ou mais órgãos internos são acometidos. Os sintomas mudam de acordo com o grau em que a doença se encontra, mas os mais comuns são fadiga extrema, dores ou inchaços nas articulações e membros, sensibilidade à luz e febre baixa.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

O diagnóstico é clínico e com auxílio de exames de sangue e urina, que podem apresentar alterações específicas da doença. Não há cura para o lúpus e o objetivo do tratamento é diminuir a progressão do quadro, reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. Pacientes podem necessitar de um, dois ou mais medicamentos em uma fase (ativa da doença) e, poucos ou nenhum medicamento em outras fases (não ativas ou em remissão). Ao mesmo tempo, o tratamento sempre inclui remédios para regular as alterações imunológicas do LES e de medicamentos gerais para regular alterações que a pessoa apresente em consequência da inflamação causada pelo LES, como hipertensão, inchaço nas pernas, febre, dor etc.

Os medicamentos que agem no sistema imunológico incluem os corticóides (cortisona), os antimaláricos e os imunossupressores, em especial a azatioprina, ciclofosfamida e micofenolato de mofetila. Segundo a SBR, os fotoprotetores são importantes e devem ser aplicados diariamente em todas as áreas expostas à claridade e reaplicados, ao longo do dia. Em alguns casos podem ser usados cremes com corticosteróides ou com tacrolimus aplicados nas lesões de pele.

Os sintomas mais leves podem ser tratados com analgésicos, anti-inflamatórios e/ou doses baixas dos corticoides. Nas manifestações mais graves do LES, as doses dos corticóides devem ser mais elevadas. Geralmente, quando há envolvimento dos rins, do sistema nervoso, pulmões ou vasculite é necessário a inclusão dos imunossupressores. Um aspecto importante no uso desses medicamentos é a atenção necessária quanto ao risco aumentado de infecções, já que eles diminuem a capacidade do indivíduo de defender-se contra infecções, incluindo a tuberculose. Em pacientes com LES grave, com rápida evolução, pode-se utilizar altas doses de glicocorticóide por via endovenosa.

O uso da cloroquina (ou hidroxicloroquina) está indicado tanto para as formas mais leves quanto nas mais graves e deve ser mantido mesmo que a doença esteja sob controle (remissão), pois auxiliam na manutenção do controle do LES.

No entanto, um estudo publicado na semana passada, na revista Nature, identificou mutações de DNA em um gene que detecta o RNA viral como causa do lúpus e a descoberta abre caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos.

 

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