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Cresce índice de mulheres que se tornam mães após os 40 anos

As mulheres estão adiando cada vez a maternidade. Uma pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) mostra que, na capital paulista, a proporção de mães com menos de 20 anos caiu pela metade, de 19,5% para 10,4%, de 2000 para 2021. Por outro lado, aumentou a parcela das mães com mais de 30 anos. Aquelas com idade de 30 a 39 anos passaram de 26% para 39,1%, no mesmo intervalo de tempo.

Mas, quando o assunto é fertilidade, a tal idade ainda faz muita diferença. De acordo com especialistas, a chance de engravidar começa a decrescer por volta dos 30 anos e se reduz em ritmo acelerado a partir dos 35. Ainda assim, é cada vez maior a quantidade de mulheres que adiam a maternidade. Muitas adiam por opção, alegando motivos profissionais ou por não se sentirem preparadas para a missão. Outras acabam tendo filhos mais tarde por conta dificuldade de engravidar de forma natural e acabam recorrendo a métodos como a fertilização in vitro, por exemplo.

De qualquer forma, a gravidez causa grandes impactos emocionais no dia a dia das futuras mamães. Para explicar sobre eles e outras questões que envolvem a gravidez tardia, o Fato & Versão conversou com Luana de Souza Galzerano, psicóloga da Unimed Limeira.

De acordo com alguns estudos, as mulheres têm adiado cada vez mais a gravidez. Por que isso vem ocorrendo?

A ascensão feminina, dentre outras mudanças sociais e culturais, tem modificado os padrões das famílias na contemporaneidade, e um destes padrões refere-se ao adiamento da maternidade. Inserção ao mercado trabalho, carreira, viagens, maior acesso aos recursos de natalidade, estabilidade financeira são alguns dos motivos para adiar o plano de ser mãe. Muitas mulheres têm priorizado seu trabalho e estudos em detrimento da identidade do papel de mãe. A mudança no estilo de vida e o crescimento profissional das mulheres são mais significativos a cada dia que passa. A sociedade está em crescente desenvolvimento e a mulher está assumindo espaço em todas as áreas, construindo sua própria autonomia, ou seja, realizando suas próprias escolhas, tais como ser solteira ou casada, ter filhos ou não, e qual profissão seguir. Assim, a mulher contemporânea busca atender às suas necessidades individuais.

Há riscos emocionais em ser mãe aos 40 anos? Quais?

O que ocorre é que ter uma gestação tardia pode ter alguns riscos biológicos e assim potencializar os medos e inseguranças. Outro fator de sofrimento encontrado em estudos é que algumas destas mulheres precisaram de algum recurso para engravidar e neste processo podem ocorrer alguns eventos aversivos, como traumas, perdas, solidão. Outro ponto é que geralmente a mulher exerce muitos papeis, como de mãe, trabalhadora, estudante, mulher, esposa, filha, o que acaba gerando muitas responsabilidades, por exemplo: uma mulher que engravida tardiamente provavelmente tem pais mais velhos que podem necessitar de cuidados e assim, aumentará sua responsabilidade.

A pressão da sociedade e da família são fatores que influenciam a gravidez tardia?

Sim, a decisão de ser mãe é uma das mais importantes na vida de uma mulher, porém as cobranças sociais impedem muitas vezes de decidir de forma tranquila o caminho a ser seguido. Com o passar dos anos e após passar a faixa etária que propicia para a gravidez, muitas mulheres se sentem ainda mais pressionadas para serem mães. Questionamentos e cobranças podem vir de familiares, amigos ou mesmo da própria sociedade. Tais pressões podem fazer com que desenvolva aumento dos comportamentos como ansiedade, culpa, auto cobrança ou mesmo insegurança. É importante salientar que ser mãe é uma escolha pessoal, de sua expectativa e não para suprir as expectativas do outro. Para uma escolha consciente, buscar autoconhecimento e entender prioridades que sejam valorosas para sua vida é de extrema importância para que se sinta bem e confiante independente da decisão que queira tomar.

Apesar dos riscos físicos, o lado emocional e a maturidade são pontos positivos desse processo?

Sim. Um dos benefícios é justamente a maturidade. Com o envelhecimento, tendemos a ter mais vivências, repertório de conhecimento e responsabilidade, o que contribui para maiores habilidades de cuidado. Além disto, muitas mulheres, casais optam em ter uma gestação tardia justamente pela confiança na decisão ou mesmo estabilidade financeira e profissional.

O medo do parto também é um fator que influencia as mulheres a adiarem a maternidade?

Sentir medo e preocupações é normal, porém é importante observar se tais sentimentos podem nos paralisar e tomar grandes proporções. Se isto ocorrer ao ponto de adiar uma gestação pelo medo do parto é importante buscar ajuda, como processo de terapia, por exemplo, para maior manejo deste sentimento e outras preocupações que podem ser evocadas. Outra orientação é o esclarecimento das dúvidas sobre formas de parto com o ginecologista ou obstetra de confiança.

Você acredita que com a pandemia o desejo de engravidar aumentou ou diminuiu?

Ainda é muito cedo para responder esta pergunta. Poucos são os estudos relacionados ao tema pós pandemia e o padrão cultural referente a esta temática. Algumas destas pesquisas relatam que o período da pandemia teve muito impacto negativo para as gestantes e puérperas. Além das questões relacionadas à gestação, é importante frisar alguns estressores decorrentes deste período, como o medo de se contaminar, medo de adoecer, diminuição de rede de apoio devido distanciamento social, entre outros.

Qual a diferença entre baby blues e depressão pós-parto?

Baby blues é uma labilidade emocional, que ocorre por fatores hormonais onde o organismo da mulher está se reorganizando para voltar ao seu estado normal. Os sintomas geralmente são tristeza, choro fácil, irritabilidade, mudança de humor, dificuldade para dormir. O tempo duração é em torno de 2 a 3 semanas e se inicia geralmente após o terceiro dia que mãe e bebê chegam a casa. Já a depressão pós-parto é um transtorno de humor que pode afetar as mulheres pós-parto. Entre os sintomas estão humor deprimido, choro excessivo, mudanças de humor severas, ansiedade, falta de energia e motivação, insônia, diminuição de libido, entre outros.  É extremamente necessária uma rede de apoio, seja do companheiro, familiar, bem como ajuda profissional.  Vale salientar que vivemos em uma sociedade em que a gestação ainda é muito romantizada, com idealizações fantasiosas e pouco conectadas com a realidade. É extremamente natural que a mãe não esteja feliz o tempo todo e que tenha seus momentos de vulnerabilidade. Cada mulher tem sua história e seu processo que é diferente do outro. Não cabe opinar e julgar e sim proporcionar acolhimento e ajuda.

A terapia também é importante durante esse processo?

Com toda certeza! A gestação é uma experiência de grande complexidade que envolve mudanças físicas, sociais, hormonais e psicológicas. Desperta sentimentos e pensamentos. E por mais que seja uma gravidez desejada, a perspectiva de gerar uma vida pode desencadear inseguranças, medos, pensamentos negativos. A terapia será um espaço de acolhimento e escuta para a gestante. O terapeuta será facilitador para que possa se sentir confortável para se expressar em um ambiente não punitivo, sem cobranças e totalmente humanizado, propiciando compreender tais emoções, estabelecendo vínculo mãe e bebê, e assim buscando ao máximo uma gestação mais saudável.

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