Pombos correios: como se criam os “atletas do ar”

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Há 40 anos lidando com as aves, o limeirense Valdir de Oliveira Dias tornou-se especialista em criar e preparar pombos para competições

 

 

Durante muito tempo, desde a idade média (476 dC-1453 dC), recorria-se aos pombos-correios para enviar mensagens dos campos de batalha para os comandos distantes. Mais recentemente, essas aves, que são maiores que o pombo comum e possuem uma carúncula mais acentuada na base do bico e sempre retornam para o local de seu criadouro após longo percurso foram muito usadas na primeira Guerra Mundial (1914-1918) e Segunda Guerra Mundial (1939-1945) com o mesmo propósito – levar mensagens dos fronts aos postos de comando. Sem a tecnologia de hoje, era era a forma de a informação viajar centenas de quilômetros rapidamente. Essas aves hoje em dia tem uma legião de apreciadores, que as utilizam principalmente em competições. Foi assim que surgiram os clubes columbófilos. Em Limeira, o gestor ambiental Valdir de Oliveira Dias, 54 anos, é um desses aficionados pela criação, treinamento e competição dos pombos-correio, tornando-os verdadeiros “atletas do ar”.

 

Manejo é importante

Para chegar a bons resultados, Valdir escolhe as melhores aves para formar casal, visto que elas no pombal, elas ficam separadas por sexo. Ele põe por terra o conhecimento popular que o pombo escolhe apenas determinada companheira para a vida inteira. "Aqui eu formo os casais que eu quero. Vou mudando de parceiro, escolho os melhores e ponho para procriar", explica. Valdir admitiu que o macho têm a sua fêmea fixa, mas ela que não espere exclusividade por parte dele, que também "arrasta as asas" pra cima de outras fêmeas. "É igual galo, quer pegar todas as fêmeas". Ele explica que o pombo que faz o s melhores resultados é conhecido como "marcador" entre os columbofilistas. “Há muitos iniciantes e a gente vai fazendo os treinos. Os que começam a se destacar, os separo para disputa", explicou. Os pombos que obtêm melhores resultados nas competições formam melhores casais, que darão bons cruzamentos. “Se deu bons resultados, voltamos a repetir o cruzamento”. Ele faz parte do Clube Columbófilo Limeirense e há 60 criadores nos dois clubes existentes.

 

Os casais se revezam

Para chocar os ovos, pombos macho e fêmeas revezam durante 18 a 21 dias. Com 30 dias de vida, os filhotes já estão voando e vivem de 15 a 20 anos. No criadouro ou pombal, eles passam por processos de vacinação e vermifugação. Criador há 40 anos, Valdir tem 200 aves no plantel, que ele consegue identificar e até mesmo sentir falta caso um deles seja pego por gavião, o predador natural. A anilha na perna contém um número, que é o seu “RG”. Ele explica que se não houver separação por sexo, eles cruzam muito e ele não consegue controlar a formação do casal que vai das os melhores resultados de crias. Para preparar seus “atletas”, ele adota alimentação balanceada, suprimento normal e uma comida mesclada balanceada e muita variedade de sementes no período que antecede as competições. Os pombos são soltos diariamente para os treinos e voam cerca de uma hora. O sobrevoo, sempre em região próxima ao criadouro, termina quando o dono os chama de volta, seja através de fala ou agitando uma vasilha com ração.

 

Mais de mil kms de voo

Em 2020 Valdir participou de várias competições, pelo quinto ano e suas aves sempre conquistam as primeiras colocações no ranking de chegada. Cada criador tem uma placa eletrônica no teto do pombal, que vai determinar o horário exato. As competições são coordenadas pela Federação Paulista da atividade e pode ser de curta, média e longa distância. Em algumas provas os pombos voam mais de 1000 quilômetros para chegar ao seu destino. É a Federação que define a rota a ser feita (norte ou sul). Na outra pata os pombos levam um chip eletrônico, que registra a sua entrada no caminhão da Federação e a sua chegada em casa após a competição. O voo de volta ocorre preferencialmente de dia. Ele volta para o criadouro devido ao instinto de voltar ao local onde nasceu. Ao pousar na parte superior do criadouro, o pombo competidor toca em uma placa eletrônica que vai registrar o tempo exata de sua chegada. O sistema é inviolável e vai aferir a classificação da ave na competição. Pombos do Valdir chegaram com uma vantagem de tempo em relação ao segundo colocado de até mais de uma hora.

 

Ovos custando R$ 20 mil

A boa linhagem, com o devido manejo pode ser mais que um hobby para o criador, mas também uma boa fonte de renda. Os pombos “marcadores”, podem ser vendidos até por R$ 5 mil. Há relato que um criador paulista chegou a comercializar ovos de seu casal campeão por R$ 20 mil. Mas o campeão é feito com manejo, boa alimentação e treinamento. “O fato de ele não estar bem fisicamente pode atrasar a ave no seu retorno à base”, diz. No fim de 2020, uma prova em que foram soltos em Brasília/DF, com mais de 800 quilômetros ele teve pombo que retornou no mesmo dia. Maior distância é de 1.200 quilômetros, prefere não voar à noite e faz o voo em linha reta durante o dia e fica suscetível às condições do tempo. Ele sente uma adrenalina ver os pombos chegarem. "Quem não tem pombo bom vai ficando para trás". Dedicação diária e conhecer as técnicas de manejo, para manter a criação sempre saudável.

 

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