Como era o Brasil em 1931, ano de fundação da Gazeta de Limeira

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Jornal fundado 40 dias depois da instituição do Dia do Jornalista,  surgiu com ideais políticos em uma Limeira de pouco mais de 40 mil habitantes

 

Quando a Gazeta de Limera foi fundada e teve sua primeira edição impressa, datada em um domingo de 17 de maio de 1931, São Paulo ainda sentia os efeitos conturbados da Revolução de 1930, com Getúlio Vargas no poder desde o ano anterior. O novo periódico foi criado para defender o Partido Constitucionalista (PC) em Limeira e apoiar os ideais que culminaram com a Revolução de 32.

A primeira capa do jornal anunciava a visita do General Izidoro Dias Lopes e dos tenentes João Alberto e Miguel Costa à cidade, para divulgar os ideais constitucionalistas, que tinham como adeptos personagens conhecidos da história limeirense, como Maria Thereza de Barros Camargo, que foi prefeita e deputada, e o advogado Octavio Lopes Castello Branco.

Curiosamente, no alto, acima da logomarca do jornal, havia um texto retificando a informação principal, dada abaixo: a visita dos ilustres revolucionários, marcados para aquela data, havia sido cancelada “atendendo a pedido telegraphico em virtude do impossível comparecimento” de um dos homenageados e transferida para nove dias depois.

Limeira ainda vivia o impacto econômico mundial em decorrência de algo que remodelaria a sua cultura, antes focada no café, para a laranja, nas décadas seguintes. Quando o valor das ações da Bolsa de Valores de Nova York (à qual a economia mundial estava integrada à época) despencou bruscamente, provocando a sua “quebra” (crash), nos meses de setembro e outubro de 1929, nos Estados Unidos, o preço do café, de onde surgiram as riquezas dos barões, despencou.

A chamada revolução industrial estava apenas nos primórdios (começou verdadeiramente em 1930, cem anos após a Revolução Industrial Inglesa) e traria ainda muitas conquistas e progresso nas décadas seguintes. O país prioritariamente agrícola já começava a inflar as suas metrópolis. Texto do Jornal do Commercio de 27 de abril de 1930 informava que Limeira já exportava milhares de caixas de laranja para Londres e Hamburgo.

 

Um país de 40 milhões de habitantes

O Brasil tinha 40 milhões de habitantes - uma estimativa, pois o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) só seria criado em 1936, quando contabilizou-se a população em 41,2 milhões. O Jornal do Commercio/RJ listava Limeira, na página 9 de sua edição de 29 de fevereiro de 1930 com 2.188 eleitores com direito a voto nas eleições, que ocorreriam em 1 de março de 1930. O estado de São Paulo totalizava 516.651 eleitores em suas 120 comarcas. O número de eleitores no Brasil era 2.810.998. As mulheres só começaram a ter direito a voto em 1934.

Quando a Gazeta passou a circular, a cidade contava com energia elétrica desde 1906, fornecida pela Central Elétrica de Rio Claro. A primeira emissora de rádio do país foi instalada em 1923, mas até o início da década de 1930, o rádio permaneceu ainda em caráter experimental. Embora seja uma das mais antigas emissoras do interior paulista, a Rádio Educadora de Limeira só começou suas transmissões em 1939.

A televisão ainda não existia - só chegaria por aqui em 1950, através do empresário Assis Chateaubriand. Já havia energia elétrica nas cidades, mas uma estiagem sem precedentes fez com que o governo Vargas tomasse uma atitude pioneira que entrou para a história: em 3 de outubro de 1931, instituiu pela primeira vez o horário de verão no país, quando os relógios foram atrasados em uma hora. A Gazeta chegou a noticiar "fantástico" acontecimento.

 

As "conversas sobre a vida alheia"

Então, não havia muito passatempo para as famílias desfrutarem em suas casas, terminado o turno de trabalho. Tinha-se o costume, então, de colocar as cadeiras nas calçadas para conversar. Esse hábito, inclusive, foi criticado por cronista do jornal "A Tribuna" de Aracaju/SE, de 18 de fevereiro de 1931. No texto, intitulado "Velhos hábitos", o redator alegava que essas "rodinhas de conversa onde se devassa, irreverentemente, a vida alheia" ainda atrapalhava a passagem das pessoas.

É importante lembrar que a história da imprensa no Brasil tem seu início em 1808 com a chegada da família real. A primeira tipografia já foi trazida na nau - conta a história. Com a chegada da família real, fundou-se a Imprensa Régia (hoje Imprensa Nacional), onde se imprimiu o primeiro jornal brasileiro, a Gazeta do Rio de Janeiro - o Correio Braziliense é mais antigo, mas era impresso em Londres.

55 anos antes da Gazeta, Limeira já tivera um impresso precursor: o jornal Limeirense, fundado em 1876, que funcionava na Rua do Commercio (futura Rua Dr. Trajano), 91. Logo após a fundação do jornal, suas atividades foram interrompidas, e reiniciadas em 1900. Nesta data, o jornal pertencia ao Partido Republicano Paulista (PRP). O redator era Luciano Araújo, desde 1900 até por volta de 1962.

Foi dentro desse contexto, onde os veículos de comunicação praticamente não existiam e havia poucas opções de entretenimento que surgiu a Gazeta de Limeira. Havia vários jornais impressos no país, mas eles chegavam a poucas e seletas pessoas. E suas edições eram editadas em tipografias, tipos gráficos que havia antes das técnicas atuais.

 

Uma Limeira bem diferente

A Gazeta de Limeira foi fundada em 17 de maio de 1931 por Mário Sampaio Martins e teve sua primeira sede na Praça Luciano Esteves, 30, tendo como diretor presidente Antônio Campos. Seus primeiros diretores foram Mário Sampaio Martins (1931-1934); Edmundo Seignemartin (1934-1935), Álvaro Corrêa (1935-1945), João de Souza Ferraz (1945-1948), Antônio Tenório da Rocha Brito (1948-1951), Antônio Campos (1951-1965).

No Cartório do Registro de Imóveis e Anexos da 2ª e 3ª Circunscrição, a Gazeta de Limeira teve seu primeiro registro no Livro de Matrícula de Oficinas Impressoras e de Jornais e outros Periódicos apenas em 14 de abril de 1947. A Gazeta de Limeira foi de publicação diária de 1945 a 1952. Permaneceu como publicação bi-semanal até 1985, já sob administração da família Lucato, quando passou a ser diário.

Quando a Gazeta surgiu, a Santa Casa local já existia, pois sua inauguração deu-se a 17 de fevereiro de 1895, tendo como primeiro provedor João Machado de Campos. Sua localização era na Rua Visconde do Rio Branco, 465. Fundado em 3 de julho de 1916, na Avenida Souza Queiroz, o Limeira Clube era o único da cidade quando a Gazeta nasceu.

A Prefeitura de Limeira funcionava em prédio localizado na Rua Barão de Cascalho, 265, e a Câmara Municipal em imóvel da Rua Dr. Trajano Camargo, 745, 1º andar. O Dr. Trajano de Barros Camargo, engenheiro e industrial, fundador da "Machina São Paulo" havia falecido um ano antes (8 de abril de 1930) e posteriormente teria seu nome adotado oficialmente na antiga Rua do Commercio.

 

 

A Gazeta de Limeira e a história

  • - Quando a Gazeta começou a circular em 1931, o cangaceiro Lampião e seu bando já aterrorizavam vários estados do Nordeste, sendo morto apenas em 1939.
  • - A Gazeta estava ainda em suas primeiras edições quando nasceu Fernando Henrique Cardoso (18 de junho) e futebolista Mário Jorge Zagallo (9 de agosto).
  • - A Gazeta é do mesmo ano da inauguração da estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (12 de outubro) e Departamento de Correios e Telegráfos (26 de dezembro), atual ECT.
  • - A Gazeta surgiu três anos antes da morte de Padre Cícero Romão Batista (1844-1934), considerado um mito no Nordeste.
  • - O escritor Monteiro Lobato publica em 1931 "Reinações de Narizinho", importante obra que abre o universo do Sítio do Picapau Amarelo.
  • - Foi em 7 de abril de 1931 (40 dias antes da fundação da Gazeta e 100 anos após a morte de Líbero Badaró) que instituiu-se o "Dia do Jornalista".
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