Fato & Versão Como as cidades podem evoluir a partir do covid-19

Arquiteto comenta sobre as mudanças do covid-19

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Arquiteto Nathan Pizani comenta a necessidade de locomoção e como a pandemia está alterando necessidades

Sem dúvida, a pandemia do novo coronavírus está alterando a sociedade em diversos setores. Pensar as cidades, o habitar, o trabalhar e até o trânsito também poderá ser diferente a partir desse processo.
O arquiteto Nathan Pizani, sócio proprietário do Escritório Pizani Arquitetura e Urbanismo, comenta que a sociedade está reproduzindo arquitetonicamente soluções que já atenderam uma época passada, e com o surgimento de uma questão como o covid-19 será preciso "analisar o que devemos preservar e como podemos evoluir neste campo. A linguagem arquitetônica vem sofrendo alterações que ainda não resultaram em um norte claro e abrangente como tivemos no século passado. Contudo, a união entre funcionalidade, técnica construtiva e conforto ambiental parecem ter algumas respostas das quais poucos enxergam seu potencial transformador", comenta ele.

Como o covid-19 impacta o planejamento das cidades?

Estamos reproduzindo arquitetonicamente soluções que já atenderam uma época passada, e com o surgimento de uma questão como o COVID-19 precisamos analisar o que devemos preservar e como podemos evoluir neste campo. A linguagem arquitetônica vem sofrendo alterações que ainda não resultaram em um norte claro e abrangente como tivemos no século passado. Contudo, a união entre funcionalidade, técnica construtiva e conforto ambiental parecem ter algumas respostas das quais poucos enxergam seu potencial transformador, sendo possível iniciar seus efeitos a partir de casos individuais que podem acarretar em mudanças significativas para a sociedade, sendo essas alterações possíveis aliadas para proteger e amenizar nossa forma contemporânea de vida urbana sobre eventuais riscos futuros, como enfrentamos atualmente.

Contudo, a união entre funcionalidade, técnica construtiva e conforto ambiental parecem ter algumas respostas das quais poucos enxergam seu potencial transformador, sendo possível iniciar seus efeitos a partir de casos individuais que podem acarretar em mudanças significativas para a sociedade, sendo essas alterações possíveis aliadas para proteger e amenizar nossa forma contemporânea de vida urbana sobre eventuais riscos futuros, como enfrentamos atualmente.

Como o urbanismo foi afetado pela pandemia?

O urbanismo é destinado à compreensão e intervenção em grandes áreas do viver urbano, ou seja, temas como a vida coletiva, mobilidade urbana e moradia são os pontos imediatos afetados significativamente. Embora muitos teóricos tenham buscado definir a sociedade, sabemos que hoje podemos entendê-la como o espaço comum e compartilhado no qual desenvolvemos quatro atividades básicas: recreação, circulação, trabalhar e habitar, como foi previsto pelo livro A carta de Atenas no século passado. Logo, podemos notar que todas as atividades foram afetadas pela pandemia, mas quais as perspectivas que podemos analisar?

Embora todos tenham sido afetados, cada atividade tem uma particularidade, um potencial e uma restrição. A recreação, ou melhor, a falta de recreação como conhecemos será ou já é a mais sentida. Neste aspecto está incluso todo tipo de lazer, para algumas pessoas é compartilhar do espaço público junto com parte da população como vemos em ruas, praças, parques, hípica e no horto, para outras são os encontros coletivos com finalidade espiritual, esportiva, política, social, cultural, educacional, e por último, existem pessoas que entendem esta atividade ao estar presente em bares, restaurantes e festas. Lembrando que cada pessoa pode gostar e entender a recreação como uma ou todas essas opções.

A recreação foi a parte mais afetada do ponto de vista urbano?

Considerando os três casos descritos acima é possível perceber que a recreação deve ser a mais afetada, pelo seu caráter democrático por abranger todas as faixas etárias, sociais, econômicas, culturais e religiosas. Além disso, é possível que esta seja a última atividade a retornar à normalidade, devido ao seu potencial dissipador em multidões, e a mais sentida em todos nós por recorrermos ao lazer após cumprirmos nossas atividades diárias para descontração, aliviar o estresse e abstração de questões incômodas.  

A circulação é a segunda atividade básica da condição da vida urbana moderna, responsável por conectar a população de suas residências para seus deveres diários como o trabalho e escola. De acordo com os desejos modernistas nos quais temos a cidade de Brasília como expoente máximo, a mesma lógica é seguida por cidades médias e grandes que também enfrentam dificuldades na área da mobilidade urbana, sendo durante o horário de pico o momento mais evidente deste problema.

O que mais preocupa na circulação em relação ao vírus?

O que pelo potencial dissipador do vírus são os transportes coletivos, aqui podemos identificar veículos como as vans, ônibus, metrôs e trens, como transportes que além de aglomerar grandes contingentes durante a espera, é no momento do embarque que enfrenta-se o principal desafio, ao concentrar pessoas que estarão em contato físico direto, distâncias muito pequenas entre um indivíduo e outro, e a possível contaminação que um recente usuário pode ter deixado involuntariamente nos assentos e suportes, apresentam uma chance alta de contaminação e muito maior de dispersão em escala geométrica.

Todas as formas de transporte são necessárias?

 

Os desafios da circulação urbana possuem há décadas os mesmos tipos de transportes, porém é comum nos depararmos com congestionamentos nos mesmos locais e horários, realidade antes restrita à grandes capitais e que hoje faz parte do cenário de qualquer cidade média no Brasil. Todas as formas de transporte são necessárias para garantir o fluxo populacional, o indicativo é que estamos utilizando de maneira equivocada a proporção das ferramentas que temos.

Embora países desenvolvidos também tenham congestionamento, é devido ao uso maciço do transporte público que conseguem ter relação mais saudável com o trânsito diário. Portanto, mesmo vivendo a situação excepcional na qual o transporte coletivo merece cuidados especiais em relação as questões sanitárias, é importante ressaltarmos sua importância nas condições de normalidade, sendo essencial para reduzir drasticamente o congestionamento, aumentar a disponibilidade de vagas, amenizar emissões poluentes, impactar o mercado imobiliário e outros. 

Como fica o trabalho com a pandemia?

A terceira, e penúltima atividade básica do viver urbano é o trabalhar, fator de suma importância e preocupação para todos, especialmente para os que estão na faixa etária economicamente ativa. Embora esta atividade já fosse preocupante antes da pandemia por apresentar números altos de desemprego no país, hoje merece mais atenção e cuidado por estarmos diante de um cenário cujo futuro é polêmico e incerto.

A dinâmica imposta pelos decretos municipais e estaduais influenciaram diretamente no desempenho de cada forma de trabalho. Os trabalhos presenciais, entre os quais são serviços essenciais, sofreram restrições para continuarem funcionando. Em contrapartida, a maior parte do grupo de trabalho presencial permanece impedida de funcionamento, acarretando em prejuízos imediatos, encontrando na internet a única opção para alguns casos. Se as mudanças impostas por questões de saúde pública forem bem recebidas por parte da população, existe uma chance relevante de impacto urbano pós-pandemia, com a retração dos trabalhos presenciais e o trabalho remoto em crescimento, teremos uma gama de novos nichos a serem explorados urbanisticamente.

 

 

 

 

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